sexta-feira, 31 de maio de 2013

Leitura & Escrita
Os livros exercem em mim sua magia. Filha única, em tempos sem comunicação (nem telefone havia) desde muito pequena, fui criada em meio a eles. Quando ficava só em casa, nos maravilhosos dias frios, continuava na cama quase todo o dia com meus companheiros coloridos, e eu os saboreava, muito. Antes de saber ler por mim mesma, minha mãe os lia para mim. A Galinha Ruiva (que fazia o pão sozinha e depois não precisava da ajuda de ninguém para comê-lo!) e O Ratinho Rique-Roque (que se apaixonou pela lua pensando que ela fosse de queijo) foram as primeiras histórias que aprendi e que, combinando comigo, preferia contá-las como as tinha ouvido do que escutar uma outra leitura sem a mesma entonação que me havia feito apaixonar-me pelos textos.
Não me lembro de minha descoberta “champoleônica” de decifrar o código. Apenas lembro que me apropriei dele. Muito jovem (talvez 10 ou 12 anos) criamos um grupo espontâneo de troca de correspondência em um caderno que ia e vinha (acho que “inventamos” o ICQ , o MSN e os Fóruns). Mas esse gênero epistolar instituído entre nós tinha uma profunda sofisticação: apaixonadas pela descoberta da História Antiga e do Olimpo e seus deuses intrigantes, cada uma de nós incorporou uma deusa (eu era Ceres/Deméter).
Poucos anos depois começávamos (eu e uma prima, quase num duelo de velocidade e complexidade) a criar livros, contando histórias bastante coesas e coerentes.
Como leitura absorvíamos tudo o que nos vinha para nossa faixa de idade, coleções de Monteiro Lobato de capa dura verde com filigranas prateados. E outras oferecidas de porta em porta por vendedores bem treinados e adquiridas em prestações mensais por nossos pais.
Havia também a turma do Mickey, talvez meu primeiro herói, detetive sempre inteligente e bem sucedido que viria mais tarde a me decepcionar, quando descobri que ele (também) era um vendedor norte-americano da ideologia daquele país.
Na adolescência, juntamente com as paixões e os festivais de MPB, comecei a criar poesias e pretensas letras de músicas; mais tarde sob meu olho crítico descubro acanhada que eram pueris e piegas. Porém, serviram pra aprender com meu espírito crítico que a rebeldia dessa fase de vida só leva, através de uma coragem desmedida, a esses erros vexatórios.
Quando comecei a lecionar descobri que se continuasse a ler os erros de meus alunos eu desaprenderia ortografia, concordâncias, além de sofrer empobrecimento do vocabulário. Comecei a ler uma publicação semanal de Agatha Christie - com seu envolvente Hercule Poirot - vendida em bancas de jornal. Apaixonei pelo gênero policial e daí veio Sherlock Holmes (de Conan Doyle) e Comissário Maigret ( de George Simenon). E houve a fase dos livros de terror: Stephen King povoou meu imaginário por um bom tempo. Na mesma época, bem antes de WWW, havia o Círculo do Livro, que gerava um vício pela compra de belos volumes, com seu catálogo bem estruturado e apetitoso, despertando o interesse por livros que jamais abri pra ler depois de sua aquisição. Primeiro pela decepção da tradução de muitos deles. Depois porque as leituras exigidas pelas várias faculdades que cursei (Francês/ Português-Inglês e Pedagogia) me absorviam todo o tempo que sobrava após o trabalho em duas escolas. UFA! Acredito que hoje eu não teria energia pra fazer aquilo tudo!
Houve minha fase de Érico Veríssimo. Li tudo dele! E hoje sinto saudade do período em que tinha tempo para ler o que quisesse.
Atualmente tenho grandes paixões: Moacyr Scliar e José Saramago. Estou lendo 3 deste há muito tempo. Não quero terminar a leitura, pois é como se acabasse uma relação amorosa que prefiro acalentar!
Leio hoje muitas crônicas e contos, para dar um pouco de colorido à vida. Mesmo que por vezes eles tragam o tom cinza de seus finais trágicos, há também a leveza do romantismo rosa e azul, e os tons vibrantes do humor em muitos desses textos.

Um comentário:

Patricia disse...

Meu primeiro contato com a leitura foi através da minha mãe. Começo pela minha mãe que é uma pessoa semi-analfabeta, mas sempre gostou de livros e passou junto com meu pai esse apreço pelos livros pra mim e para minha irmã.
Minha mãe sempre pegava um livro e através das figuras ia criando e contando uma estória pra mim e para minha irmã, após a contagem ela ia mostrando as vogais e as letras, que conhecia do alfabeto, assim fazia todos os dias.
Meu pai sempre que chegava do trabalho pegava o mesmo livro que foi usada pela minha mãe e contava a estória ensinando novamente as vogais e as letras do alfabeto e a união dessas letras não me cansava de ouvir “Rapunzel, Cinderela, o Conto da cigarra e da formiga entre outras estórias até mesmo as criadas por minha mãe.